segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Circulo de Aigam.


Conta a história que existiu à muito tempo atrás, ainda na altura em que os homens acreditavam na magia, uma mulher chamada Alice, pertencente à misteriosa irmandade dos conhecedores de magias – a Ordem de Aigam . Os que a ela pertenciam, eram capazes de sarar feridas profundas e distinguir as existências puras das maléficas. Todos os seus membros eram escolhidos minuciosamente e passavam por um ritual de iniciação, que terminava com uma questão essencial. A escolha dos futuros companheiros para o ritual de iniciação, era também realizada pela ordem, sem que ninguém soubesse porque se encontrava naquele naquele lugar – tudo isto, porque uma das características dos seus membros era “Nunca desconfiar. Sempre acreditar”.
A resposta dada era escutada pelos restantes membros e dela dependia o facto de entrarem ou não para o círculo de Aigam. Havia soluções intermináveis, mas só uma verdadeiramente pura, por isso conseguem imaginar a responsabilidade de tal momento. Para a grande decisão, todos (com excepção, do possível iniciante) se juntavam em conferência, chamada de encontro de Ecnesba.
Alice era alta, tão alta que era capaz de abraçar o céu e a lua, em noites de luar. Dizia ela, que era do tamanho do que via. Conseguem imaginar tal façanha? Sim…ela via o universo reflectido em sois, sorrisos e lágrimas, pois conjugava em si toda a humanidade.
Não se podia dizer que Alice era triste…não. Era um misto de nostalgia e curiosidade, no seu olhar. Quem olhava bem fundo nos seus olhos, parecia não mais querer regressar ao caminho onde estava, pois aquele afigurava-se completamente fascinante. O que se veria através dos seus olhos? Não era apenas uma questão de visão…era uma experiência múltipla de sensações, odores, sons e contacto. Sempre que encontrava alguém menos bem…como ela intuía as pessoas…era uma espécie de arrepio no coração, um rasgo de dor na alma, uma espécie de fusão com o outro…mas ela sabia…ela pressentia. Colocava a sua mão por cima das outras mãos e deixava-a assim poisada, até que surgisse no outro corpo uma espécie de luz intensa e vermelha a fluir pela pele, até chegar ao coração. Como estou quente…diziam…como estou colorida…e riam-se…riam-se, como nunca se tinham rido em nenhum dia das suas vidas.
Era o reflexo da humanidade, transformado em possibilidades de sonhos infinitos.
Alice habitava o país do Olucric , na longínqua e pequenina aldeia de Odaetarp , situada no cume da mais alta montanha do mundo; nessa altura, claro, pois entretanto com o passar do tempo (muito tempo, muitos anos) os homens começaram a construir montes e vales bem mais altos, com máquinas, electricidade e vento. Mas, muito menos resistentes às intempéries, pois de vez em quando se algum desastre acontece, desgastam-se muitas vidas, quando poderíamos ter continuado a acreditar que aquela montanha da aldeia de Adaetarp era mesmo a mais forte. No cimo da aldeia havia um campo florido o ano inteiro, pois naquela altura os homens ainda não tinham dividido o tempo em quatro partes; logo não havia razão para não existirem sempre flores ou para existirem divisões entre árvores perenes e outras. Quando as chuvas ou a neve caíam, era um processo tão vulgar como estar sol, calor ou frio. E por isso, os poucos habitantes da aldeia não tinham que se preocupar com estas questões tão pouco interessantes, pois simplesmente aceitavam o que a terra lhes dava quando girava em movimentos contínuos, lentos e belos. (cont…)